quarta-feira, 19 de setembro de 2012

História Do Xadrez Moderno
Paul Morphy 2ª Parte
por Pedro Alcântara
Os europeus são congenitamente céticos quando ouvem dizer que um americano se destacou num terreno cultural. Para um inglês, acreditar que um jogador de xadrez americano pudesse derrotar seus mestres era o mesmo que admitir a possibilidade de um escritor americano produzir uma obra-prima literária. Quando chegou aos clubes londrinos a notícia da vitória de Morphy, o consenso geral foi que os adversários do jovem provavelmente estavam muito abaixo do padrão europeu de jogadores de torneio. Lowenthal, depois de regressar de sua visita aos Estados Unidos, escrevera no jornal The Era sobre o progresso do xadrez americano, mas os jogadores ingleses não levaram muito a sério o artigo. É interessante notar o que Lowenthal tinha a dizer: "O progresso feito pelo xadrez na América é quase, se não tanto, igual ao que se conseguiu na Inglaterra. Isso é mais do que se poderia esperar; pois é de supor-se que, num país relativamente novo, os homens sejam mais atarefados e mais inquietos do que numa nação velha e parece bem contra as probabilidades que na América um jogo exigindo sereno pensamento e estudo se tenha desenvolvido na mesma escala que divertimentos mais animados. Que isso acontece, porém, prova o fato de, em quase toda grande cidade de lá, existir um clube de xadrez e muitos desses clubes estarem em comunicação e jogarem partidas por correspondência. Outra prova é encontrada no número de jornais que dedicam regularmente uma parte de seu espaço ao xadrez e dão, como os jornais ingleses, partidas bem jogadas, com anotações, problemas e informações sobre xadrez... Devemos prestar certa atenção ao xadrez na América se pretendemos conservar verdes nossos louros.Os homens do Novo Mundo não estão habituados a ficar para trás quando se empenham em qualquer empreendimento e, se não tomarmos cuidado, é bem possível que o próximo campeão de xadrez venha do far west. Que isso ia em breve acontecer, efetivamente, era coisa que nem mesmo Lowenthal previa. Foi o primeiro a desafiar Morphy para um encontro. Jogaram doze partidas, das quais Morphy ganhou nove e perdeu três. Além da inquestionável superioridade demonstrada pelo resultado que obteve, e que Lowenthal reconheceu sem hesitação, Morphy pareceu levar uma estranha vantagem psicológica sobre seu adversário. Como disse um dos comentaristas: "Esse rapas de vinte e um anos, cinco pés e quatro polegadas de altura, de figura esguia e rosto como o de uma jovem adolescente, positivamente apavora os guerreiros do xadrez de nosso país - Narciso desafiando Titãs". The Era prestou a Morphy o seguinte tributo: na manchete: " FINAL DA GRANDE COMPETIÇÃO DE XADREZ" O encontro entre o Sr. Morphy e Herr Lowenthal chegou ao fim sábado, com o americano conquistando a vitória. Embora fosse universalmente observado que Herr Lowenthal jogou muito aquém de sua força habitual, deve-se admitir, ao mesmo tempo, que o jogo do Sr. Morphy qualifica aquele cavalheiro como um dos melhores jogadores do mundo. Teremos prazer em vê-lo enfrentar outros grandes jogadores europeus, a fim de que possa ficar provado quem é mais forte no jogo, o Velho ou o Novo Mundo. Acreditamos que o Sr. Morphy está disposto a desafiar todos os que se apresentarem. Há algo de extraordinariamente romântico e cavalheiresco neste jovem que vem à Europa e lança a luva a todos os nossos veteranos. Ele é sem dúvida um admirável Crichton do xadrez e, como o consumado escocês, ele é tão cortês e generoso quanto bravo e competente. Morphy sentia-se, naturalmente, muito ansioso por enfrentar Staunton num match. O último, porém, continuava tão cioso de sua reputação quanto sempre e, embora não recusasse abertamente jogar, sempre encontrava alguma razão para retardar a data do encontro. Staunton jogou com Lowenthal num forte torneio em Birminghan, apenas uma semana depois do término do match entre Morphy e Lowenthal. Este venceu o torneio, derrotando Staunton em partidas individuais. Como ele já havia reconhecido francamente Morphy como um jogador melhor, mesmo aqueles em cuja opinião Staunton era talvez o único homem adequado para enfrentar o americano mostravam-se agora dispostos a admitir que o campeão inglês provavelmente perderia a competição.Com efeito, diversos jogadores ingleses expressavam a opinião de que Staunton encontraria meios de fugir inteiramente ao encontro, como já fizera no caso de Saint-Amant. Essa previsão mostrou-se correta. Staunton recorreu a uma variedade de expedientes, insinuando mesmo que Morphy não tinha quem lhe fornecesse recursos para a bolsa de cinco mil libras que ele estipulara. Morphy depositou o dinheiro em um banco em Londres e enxadristas amadores ingleses, com sua proverbial lealdade esportiva chocada pelos métodos vergonhosos empregados por Staunton para fugir ao encontro, prontificaram-se a apoiar Morphy com 10.000 libras, se necessário, para levar Staunton a jogar. O campeão inglês disse que suas obrigações literárias não lhe permitiam encontrar tempo para o necessário treinamento e Morphy, desgostoso, partiu para a França. Foi acompanhado por F. M. Edge, um seu admirador inglês que se encontrava presente em Nova Iorque quando conquistara seus primeiros louros e que consentiu em servir como seu secretário durante sua estada em Paris, onde Morphy planejava jogar contra Harrwitz e Anderssen, os dois maiores jogadores do continente. Ia começar então uma aventura inesquecível !
continua...

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